‘Eu não desenvolvo pessoas, mas equipes’ - presidente do Grupo Solvay

José Borges Matias, presidente do Grupo Solvay na América Latina diz o que considera necessário para inovar e crescer

Desde abril de 2016 no cargo de presidente do Grupo Solvay na América Latina, José Borges Matias está há 34 anos na organização. Ele entrou na Rodhia como trainee em 1983, depois de se graduar em engenharia mecânica e aeronáutica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Na empresa, desempenhou funções nas áreas de produção e de administração de investimentos no Brasil e na França até 1991, tendo em seguida trabalhado em marketing e vendas nas equipes das divisões de poliéster e poliamida. Em 2002, foi nomeado vice-presidente na América Latina para Compras e Serviços. Em 2006, foi nomeado vice-presidente de Suprimentos, Energia e Relações Governamentais da Rhodia América Latina. Dois anos mais tarde, tornou-se vice-presidente mundial de Compras. Posteriormente, em setembro de 2011, com a aquisição da Rhodia pelo grupo belga Solvay, passa a ser VP mundial de Compras e Supply Chain, com a responsabilidade de administrar compras da ordem de ¤ 8 bilhões de euros. “Criamos uma área de compras que depois se tornou uma referência e me permitiu participar de um prêmio entre os Top 10 diretores de compras da Europa”, conta. Em 2014, volta ao Brasil para assumir o posto de presidente mundial da Unidade de Negócios Coatis do Grupo Solvay, que possui duas grandes áreas de atuação: fenol e derivados. A organização existe há 153 anos, é uma das principais empresas do setor químico. Fatura ¤ 12,4 bilhões por ano, tem 150 fábricas em 53 países e emprega 30.900 pessoas. Na América Latina são cerca de 3 mil empregado, sendo que 82% estão no Brasil, onde o grupo também atua com a marca Rhodia, possui nove fábricas, sendo sete no Estado de São Paulo. Aqui, fatura anualmente cerca de ¤ 1 bilhão. A seguir, trechos da conversa.

Pessoas e equipes


Eu tenho um princípio: eu não desenvolvo pessoas, eu desenvolvo equipes. Para desenvolver equipes eu preciso desenvolver a pessoa, é um item. Mas desenvolver equipe é muito mais, precisamos trabalhar juntos, haver sinergia, e ela vai se diferenciar mais facilmente dos concorrentes. E vai lançar mais coisas, porque é o poder da equipe que dá sinergia aos trabalhos que fazemos. Então, o desenvolvimento de equipes, a formação de equipes multiculturais, com diversidade, são elementos-chave para criar um ambiente para buscar inovação, crescimento e lançamento de novos produtos.


Crescimento


Duas coisas foram importantes para o meu crescimento profissional. O respeito ao próximo e a entrega. Se havia um projeto, era entregá-lo na data e com a qualidade certa. Se tinha de fazer uma produção, então ela tinha de ter baixo nível de resíduos, ter qualidade e boa apreciação pelos clientes.

Relacionamento


E a questão do relacionamento também foi importante (para o crescimento). Sempre se comenta que a maioria das pessoas é admitida porque tem competência técnica, mas 50% delas são demitidas porque têm um problema relacional, são mal vistas na empresa. Então, é preciso ter os dois elementos, competência e capacidade de relacionamento, para o sucesso de cada um, onde quer que seja. Acho que esse são os dois aspectos que mais colaboraram para a minha carreira. Também é preciso estudar sempre para ser competente tecnicamente e saber trabalhar em grupo para desenvolver um trabalho de excelência no grupo.

Mentores


Eu tive o prazer de ter alguns. O primeiro, logo quando entrei na fábrica, era um suíço absolutamente focado em desenvolvimento de pessoas. Além de ele me dar o trabalho ele me falava, em dois meios períodos por semana, ‘por favor, vá para a biblioteca e faça o que você queira’. Era como dizer, estude, se desenvolva. Eu sempre me lembro dessa mensagem. Era como dizer: o que você aprende não é suficiente, e o que nós vamos ensiná-lo não é suficiente.

Perfil adequado


Uma das chaves da liderança é reconhecer a adequação do perfil de cada um com a sua função. Então, não expor pessoas que têm um perfil mais de detalhe, de controle, a outras atividades que não sejam desse tipo. Aqueles que têm um perfil mais amplo, de inovação, de pensamento, de futuro, eles podem ir para áreas mais vinculadas à inovação.

Inovação e preservação


O que eu tenho aprendido é que o conceito de inovação para impregnar a organização, tem de ser construído. Não é uma coisa que só se fala, é preciso ter programas de inovação, linhas de pesquisa e desenvolvimento. O grupo Solvay hoje tem quase 3 mil pesquisadores e desenvolvedores entre os 30 mil funcionários. É um número expressivo. Mas é preciso ter o espírito de inovação e, ao mesmo tempo, se preservar corretamente com um produto de qualidade, com controle das operações para evitar qualquer risco e manter a imagem e a qualidade do produto, são coisas complementares.

Valor do emprego


Toca-me profundamente realizar atividades que colaborem com o emprego, que, acredito, é um valor essencial. A pessoa que está empregada, remunerada, reconhecida pelo seu trabalho, tem dignidade e pode desenvolver um valor social maior.

Marco


Em 1994, com pouco mais de dez anos na companhia, eu tive a oportunidade de lançar, pela Rodhia, uma empresa de reciclagem de garrafas e de sermos um dos primeiros recicladores sul-americanos de garrafas. Trazíamos garrafas prensadas do Brasil inteiro aqui para Indaiatuba, onde fazíamos a lavagem, a reciclagem, para fazer ou novas garrafas não alimentares ou para fazer tecido, poliéster. Na época, nunca me faltaram recursos para investir. Tanto que a implantação e execução desse unidade se deu em dois anos. Em três anos, atingimos cerca de 10.000 t/ano de produção.

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